sábado, 20 de agosto de 2011

Poema SENHORAS DO TEMPO

Fonte: Google Imagens.
Mentiu
quem falou
que as árvores não cantam
Mentiu
quem cantou que elas não falam.
Agora é noite
Tudo é tão supostamente normal...
Mas hoje, manhazinha,
acordei pensando que o dia
seria igual ao nada
que foi minha vida até ontem.
Moro num lugar desolado
Distante dos meus sonhos utópicos
Onde não há gente pra conversar...
... para amar
Um deserto urbano
no meio da cidade deserta
Só eu e aquelas Sequóias que...
... nem sei porque estão ali
Nas florestas geladas da Sibéria,
num passado remoto,
com certeza estariam bem melhor
Talvez tenham vindo mesmo de lá
Só para lançar sobre mim
o frio dos seus olhares
mórbidos e apáticos.

As árvores...
... mórbidas e apáticas, pensei eu
Que loucura dilacerante!
Que equívoco repugnante!
Elas são a mais linda certeza
de que tudo está vivo,
e vida haverá
se a matança cessar.
Eu percebi isso naquela manhã
de um dia que não sei se é eterno
ou se é uma luz que velozmente
aportará no infinito,
a desmanchar a eternidade.

Eu saltei daquela manhã
para a floresta das Sequóias,
deslocada no tempo e espaço
E coloquei-me a conversar com elas...
... amar com elas...
... semear os desertos ao lado delas.
Escutei, sentindo, a história da verdade:
passado, presente, profecias
As antigas cicatrizes em seus corpos
não as deixavam mentir
Fiquei sabendo o que realmente ocorreu
Da lebre que foi abatida
no apogeu da parábola
que descrevia o seu salto apavorado
E dos ácidos que corroíam
a transparência do mar,
expulsando os peixes para o fogo.
O poder da Música
buscava no futuro
a felicidade selvagem
que me dominaria plenamente.

E por fim,
a mais velha de todas,
aquela que ultrapassava
os 2000 anos de longevidade,
ofereceu-se a mim
Para que eu pudesse, com seu corpo,
construir um navio,
percorrer os oceanos,
ir ao encontro... da Paz.

(Fábio Torres).

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