sábado, 13 de agosto de 2011

Poema PARA AUGUSTO, CHARLES E EDGAR





Augusto dos Anjos, Edgar Alan Poe e Charles Baudelaire  /  Fonte: Google Imagens.

Mais uma vez só
Preferindo sentir delírios no olhar,
      mente e coração
Provocados pelos cenários da Galícia,
      ao norte dos montes Cárpatos
Mas não os sentia
Estava eu plenamente imerso
      no mais íntimo de uma noite abissal
E lá fora a ira da tempestade
      enchia ainda mais, e cada vez mais,
      o trevor daquele já tão revolto oceano
Deslumbravam-me as Histórias Extraordinárias,
      A Queda da Casa de Usher
Foi quando meus neurônios,
      e sua criatividade neurótica,
      começaram a instigar... atiçar
      os hemisférios do meu cérebro
      à geração de toscas imagens
Melancólicas... angustiadas
Densas, e não flamejantes
De aloucada desmesura e abstração
Que eram, no mínimo, malditas
Infindavelmente poéticas
E que agora passo ao fantástico
de sua narrativa
Ao “fantásmico” da sua descrição:

“ Nas Southern Uplands,
as Terras Altas do Sul
Sob a primórdica lua cheia
da velha Escócia
No alto da pré-histórica
colina dos ventos uivantes de dor
Havia mausoléus há séculos
profanados
Esqueletos à superfície,
nobres representantes de uma
realeza soterrada pelas
batalhas invencíveis
Amontoados ataúdes
E o toque plangente
de lúgubres alaúdes
Eram as ruínas de um milenar
cemitério abandonado... relegado...
... esquecido ao relento
Sentenciado a nunca mais provar
do calor de um humano ser sequer.
Muros pétreos, Quercus immensurabiles,
cruzes férreas, gigantes escultóricos...
Quase nada se achava a plumbu
Quase tudo se encontrava oblíquo,
ou aos pedaços no chão
Exceto o puro ar marcial
da arquitrave e dois fustes de coluna
dóricos    o pórtico sustentáculo
do aço crasso e amedrontador
daquele portão
De assustador ferrolho forjado
sob a forma de uma caveira
E que de tão oxidado, as suas enormes
dobradiças se derreteram
formando um maciço estático e
impositor a sua rotação.
Do subsolo fecundo... fogos-fátuos
Fugazes baforadas incandescentes
Provindas das orgânicas matérias curtidas
durante os transpassares
das centenas de anos
Pavimentos afligidos pela vegetação rasteira,
fumegando de organismos rastejantes
E no teto desse mundo se via um céu
de cinzentas entranhas em turbulência.
Mas... O QUE personificaria, fielmente,
tal atmosfera?
As mandrágoras púrpuras?...  as brancas?...
... as criaturas da carne e do lodo?...
... O FANTASMA DE MALCOLM !
Vilão e usurpador
Grotesco e paranóico por ter sido
mais um entre tantos reis ubus,
glutões das decompostas carcaças
espalhadas sobre os
desertos da história
E agora, réu perpétuo a vagar ao léu
Torturado pelas legiões do mal
no estômago das cavernas do umbral
Arrastando, pelo limo, seus gigantescos
grilhões... pesados estigmas...
... feito luas acorrentadas aos pés
Sombra penetrando as sombras
Sombras que penetram a sombra...
... atormentada e infeliz
até o eterno infinito “.

No estio da manhã, o conto termina
E o medo começa
a me roer e doer nos ossos
Sinto que estou na iminência de ser
transportado àquela
tenebrosa dimensão
Então... fecho o livro e os olhos
Com a vontade cheia de desejos
de sonhar com fúrias incontroláveis
A guerra sem tréguas e mortal
entre o bem e o mal
Travada por um mau e um bom djinn
Quem haverá de vencer!?

Sou um visionário... incurável
O andarilho das tormentas
Canhestro albatroz a se desviar
dos abismos do convés
Não resta espaços para dúvidas.

(Fábio Torres).

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