Talvez eu esteja em Xanadu
Protegido pela Corte do Grande
Poderoso Kublai Khan,
Senhor Absoluto da Plenitude
Imperial Chinesa
Ou, quem sabe... em Biafra
Um Ibo relegado e esquelético
num canto da guerra petrolífera
Onde estou, Gigante Caçador?
Lua de prata, serrania de nuvens, incêndio vítreo
Fujo do dia, tomo posse de uma noite velha
E sozinho no tempo, descanso numa cadeira
Pensando no menino que anda comigo
Minúsculas tetas de menina que sonham
ser os seios fartos de uma
linda negra africana
Soturno espectro gigante a vagar pelo desconhecido...
... oculto... inexpugnável cemitério de elefantes,
deslizando solitário nas ossadas
e marfim da sua espécie
Visão telescópica além da profusão cósmica
Viverá por séculos?
Em seu sangue navegam um saveiro e um destróier
Tendo as nautas Cloto e Láquesis a governá-los.
A flama do êxtase está no mar, na terra,
nas cidades, nos rios, nas pontes e cavernas
Acompanha a brisa marítima, arrastando-se dos corais
às estalactites e estalagmites.
Ele sonha com mesa farta e fartos seios
a banhar com leite os lábios e a vida da criança.
E vê as assassinas V-2 demolindo Londres.
Ele não tem medo de dizer eu te amo.
Ama o som do silêncio e as canções do vento.
Não quer ser temido do Cairo ao coração.
Quer caminhar pelas ruas sem ser notado
Através da multidão sem ser trucidado
Entre os leões sem ser devorado
E encontrar um velho amigo:
– SALVE, IRMÃO!
COMO É BOM TOMAR TUAS MÃOS
E TE AMAR.
E vê os exércitos de Alexandre escalando
as gloriosas montanhas do Oriente
E os de Dario derrotados em Isso.
É hipnótico esse prazer... tão insólito e singular
em fazer amor de todas as maneiras
imagináveis... e inimagináveis,
botar fogo nos altares
e ver os bisões deitados na neve
que amanta as pradarias.
Qual voz metálica sempre saudará os diamantes?
Minha larva permaneceu dezessete anos debaixo da terra
Agora vou rasgar o tegumento que imobiliza minhas asas
Subir ao mais alto pé de carvalho
E morrer a qualquer momento
Retendo o açúcar da seiva e agitando meus címbalos
Libertando a monótona e plangente orquestra.
O homem nasceu da mulher
E tudo de bárbaro amará teu corpo.
Há milênios uma nave decolou fugindo de um planeta hostil
Esquecendo o casal de negros apavorados.
E vejo que é impossível deter Sleipnir.
Este ogre que vive em mim morrerá por séculos?
E durmo na cadeira, contemplado pelas luzes ciganas
Ouvindo o canto de uma Jubarte
Esperando o sol
Vendo Júpiter lançar os Titãs ao Tártaro,
inclusive Saturno, seu pai.
Onde estou?
Numa sultanesca cama ampla e resistente
Assanhando os lençóis de seda japonesa
Sentindo o peso do corpo nu de Rosamunda sobre mim
Enlouquecidos num orgasmo de Rei e Rainha
Conduzindo-nos à carruagem de Eos.
Torturado em algum calabouço distante
de capitães e coronéis
que matam, pelas costas,
os heróis da América Latina.
Onde estou, Gigante Caçador?
Como Átropos abordará meus navios!?
(Fábio Torres, com dezoito anos).
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