domingo, 21 de agosto de 2011

Poema 18º VERÃO (Órion já me assiste)

Constelação de Órion / Fonte: Google Imagens.

Estou perdido não sei onde
Talvez eu esteja em Xanadu
Protegido pela Corte do Grande
  Poderoso Kublai Khan,
      Senhor Absoluto da Plenitude
      Imperial Chinesa
Ou, quem sabe... em Biafra
Um Ibo relegado e esquelético
      num canto da guerra petrolífera
Onde estou, Gigante Caçador?

Lua de prata, serrania de nuvens, incêndio vítreo
Fujo do dia, tomo posse de uma noite velha
E sozinho no tempo, descanso numa cadeira
Pensando no menino que anda comigo
Minúsculas tetas de menina que sonham
      ser os seios fartos de uma
      linda negra africana
Soturno espectro gigante a vagar pelo desconhecido...
      ... oculto... inexpugnável cemitério de elefantes,
      deslizando solitário nas ossadas
      e marfim da sua espécie
Visão telescópica além da profusão cósmica
Viverá por séculos?

Em seu sangue navegam um saveiro e um destróier
Tendo as nautas Cloto e Láquesis a governá-los.

A flama do êxtase está no mar, na terra,
      nas cidades, nos rios, nas pontes e cavernas
Acompanha a brisa marítima, arrastando-se dos corais
      às estalactites e estalagmites.

Ele sonha com mesa farta e fartos seios
      a banhar com leite os lábios e a vida da criança.

E vê as assassinas V-2 demolindo Londres.

Ele não tem medo de dizer eu te amo.

Ama o som do silêncio e as canções do vento.

Não quer ser temido do Cairo ao coração.

Quer caminhar pelas ruas sem ser notado
Através da multidão sem ser trucidado
Entre os leões sem ser devorado
E encontrar um velho amigo:
– SALVE, IRMÃO!
COMO É BOM TOMAR TUAS MÃOS
E TE AMAR.

E vê os exércitos de Alexandre escalando
    as gloriosas montanhas do Oriente
E os de Dario derrotados em Isso.

É hipnótico esse prazer... tão insólito e singular
    em fazer amor de todas as maneiras
    imagináveis... e inimagináveis,
    botar fogo nos altares
    e ver os bisões deitados na neve
    que amanta as pradarias.

Qual voz metálica sempre saudará os diamantes?

Minha larva permaneceu dezessete anos debaixo da terra
Agora vou rasgar o tegumento que imobiliza minhas asas
Subir ao mais alto pé de carvalho
E morrer a qualquer momento
Retendo o açúcar da seiva e agitando meus címbalos
Libertando a monótona e plangente orquestra.

O homem nasceu da mulher
E tudo de bárbaro amará teu corpo.

Há milênios uma nave decolou fugindo de um planeta hostil
Esquecendo o casal de negros apavorados.

E vejo que é impossível deter Sleipnir.

Este ogre que vive em mim morrerá por séculos?

E durmo na cadeira, contemplado pelas luzes ciganas
Ouvindo o canto de uma Jubarte
Esperando o sol
Vendo Júpiter lançar os Titãs ao Tártaro,
    inclusive Saturno, seu pai.

Onde estou?

Numa sultanesca cama ampla e resistente
Assanhando os lençóis de seda japonesa
Sentindo o peso do corpo nu de Rosamunda sobre mim
Enlouquecidos num orgasmo de Rei e Rainha
Conduzindo-nos à carruagem de Eos.

Torturado em algum calabouço distante
    de capitães e coronéis
    que matam, pelas costas,
    os heróis da América Latina.

Onde estou, Gigante Caçador?
Como Átropos abordará meus navios!?

(Fábio Torres, com dezoito anos). 

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