sábado, 20 de agosto de 2011

Poema RECIFE

Numa noite dessas
deambulava eu
Trôpego pelas pontes
de uma cidade radiosa... fragrante
Cruzando os multicoloridos,
palpitantes, lucescentes
espelhos vivos de cristal
A via Ápia fluvial até o mar
Margeada pelos arbustos aquáticos
Velada de perto, e de longe,
pelos monumentos ecléticos
Leviatã e seus tentáculos
Encurralado entre cais e estradas
Deitado pesadamente
sobre o leito urbano
Recife à noite é bela
Recife, a noite é linda
Oh, bela
O-linda cidade noturna.
Desmaterializo-me aqui,
materializo-me ali
E lá sou a nada reduzido
Soterrado pela
macro-escala-monumental
do majestático Palácio da Justiça
A praça e a república
O neoclássico teatro
cor de Rosa e Isabel
Vejo
As princesas nuas,
soltas pelo campo,
que nem as flores caídas de
um gigante baobá
O fantasma de um castelo
chamado Friburgo
A casa do Conde e suas torres,
e seus jardins
A legiões,
a multidão de espectros,
as sombras dos artistas mortos,
Henrich Moser e os outros
Movimentos quiméricos,
como num vitral fantástico.
A casa do Agra não mais existe
E caio exausto no silêncio,
aos pés de um poeta petrificado,
estrangulando os olhos
sobre a Buarque de Macedo,
desmaterializando-me ali,
e materializando-me...
... nos braços de Aurora.
Na aurora
Fitando as águas negras,
onde mora o pútrido
monstro de lama orgânica
e toda a sua atmosfera,
e toda a mácula
Não era mais as garras
leviatânicas da madrugada
Já é dia no Recife.
Preciso, rápido, transpor
os recifes,
alcançar o meu dólmen
Para não ser massacrado
pelas enfurecidas manadas
de rinocerontes gigantescos
e envenenados
Pois já é dia no Recife
Preciso... os recifes...
... o dólmen.

(Fábio Torres).

Praça da República e, ao fundo, o Palácio da Justiça, no Recife (PE) / Fonte: Google Imagens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário