quinta-feira, 1 de setembro de 2011

PRÍNCIPE DAS TREVAS (um poema inacabado)

Nasceu nas trevas
de um mundo perdido
de um reino morto
de um rei deposto
Entre rainhas que eram bruxas,
entre feiticeiras que eram princesas
E sepultado será,
no sangue de um povo miserável
Com todas as honras que cabem a
um faraó,
um guerreiro viking,
um czar,
um imperador qualquer.
Ele fez a ruína de todos os impérios,
quebrou todos os pactos,
delatou todas as conspirações,
decapitou os conspiradores
e também empalou os inquisidores
Criou a pátina que encobre hermas na acrópole
Em Tessalônica fez desmoronar as igrejas cristãs
Incutiu o pensamento infanticida
nos reis da época do nascimento do Ungido
Enfureceu o Vesúvio
Petrificou os povos amantes de Pompéia,
numa homenagem eterna à luxúria
Foi senhor
Desfez toda a felonia agitadora,
matando os vassalos numa pedra salgada
extraída de uma falésia grega
Chefiou todas as seitas que conduziram à morte
milhares de idiotas cegos pela fé
No norte da América
chacinou os bisões e as nações indígenas,
e sobre seus corpos edificou
suas fortalezas militares
Ao sul, nas selvas amazônicas,
com o peso do machado,
e depois com o poder cortante da serra elétrica,
esquartejou o corpo das árvores, bichos e tribos
Inventou as câmaras de tortura e a escravidão
Arrancou os negros da África,
milhões exterminou
Fundou a Ku Klux Klan no Tennessee
e o apartheid em Pretória
Embalou em sangue os sonhos de liberdade,
perpetuando a ferida racista no ventre das raças
Comandou a marcha nazista sobre a Polônia
Incinerou judeus vivos nos fornos de Auschwitz
Conduziu o Enola Gay até o Japão
e plantou o cogumelo atômico sobre a paz
de Hiroxima e Nagasáqui,
deixando sua sombra sentada,
sentinela das catástrofes
Devastou aldeias no Vietnam
Jogou em valas e metralhou
mulheres, crianças e velhos,
enquanto alimentava com carne humana
porcos esfomeados e esqueléticos.
Ele fez a podridão dos ares,
os petroleiros que vomitam óleo nos mares
As cidades de concreto
O aço
As megalópoles
A sede... a fome
... E tudo mais.
A filáucia lhe torna o deus
de um reino morto
Filho de rainha bruxa
e de rei deposto
Na guerra da discórdia
entre as trevas e a luz.

(Fábio Torres e Ademir de Oliveira).

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