Nasceu nas trevas
de um mundo perdido
de um reino morto
de um rei deposto
Entre rainhas que eram bruxas,
entre feiticeiras que eram princesas
E sepultado será,
no sangue de um povo miserável
Com todas as honras que cabem a
um faraó,
um guerreiro viking,
um czar,
um imperador qualquer.
Ele fez a ruína de todos os impérios,
quebrou todos os pactos,
delatou todas as conspirações,
decapitou os conspiradores
e também empalou os inquisidores
Criou a pátina que encobre hermas na acrópole
Em Tessalônica fez desmoronar as igrejas cristãs
Incutiu o pensamento infanticida
nos reis da época do nascimento do Ungido
Enfureceu o Vesúvio
Petrificou os povos amantes de Pompéia,
numa homenagem eterna à luxúria
Foi senhor
Desfez toda a felonia agitadora,
matando os vassalos numa pedra salgada
extraída de uma falésia grega
Chefiou todas as seitas que conduziram à morte
milhares de idiotas cegos pela fé
No norte da América
chacinou os bisões e as nações indígenas,
e sobre seus corpos edificou
suas fortalezas militares
Ao sul, nas selvas amazônicas,
com o peso do machado,
e depois com o poder cortante da serra elétrica,
esquartejou o corpo das árvores, bichos e tribos
Inventou as câmaras de tortura e a escravidão
Arrancou os negros da África,
milhões exterminou
Fundou a Ku Klux Klan no Tennessee
e o apartheid em Pretória
Embalou em sangue os sonhos de liberdade,
perpetuando a ferida racista no ventre das raças
Comandou a marcha nazista sobre a Polônia
Incinerou judeus vivos nos fornos de Auschwitz
Conduziu o Enola Gay até o Japão
e plantou o cogumelo atômico sobre a paz
de Hiroxima e Nagasáqui,
deixando sua sombra sentada,
sentinela das catástrofes
Devastou aldeias no Vietnam
Jogou em valas e metralhou
mulheres, crianças e velhos,
enquanto alimentava com carne humana
porcos esfomeados e esqueléticos.
Ele fez a podridão dos ares,
os petroleiros que vomitam óleo nos mares
As cidades de concreto
O aço
As megalópoles
A sede... a fome
... E tudo mais.
A filáucia lhe torna o deus
de um reino morto
Filho de rainha bruxa
e de rei deposto
Na guerra da discórdia
entre as trevas e a luz.
(Fábio Torres e Ademir de Oliveira).
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