sábado, 3 de setembro de 2011

Poema VERA (de uma viagem astral)

Figura feminina criada por H. R. Giger / Fonte: Google Imagens.

Minha Consagrada
Deusa Arcana
Não há retorno
Foi trama do destino
Teia armada, magnificamente
arquitetada
Que, imprescindivelmente,
nos capturou
Alta onda que nos alcançou
E emaranhou irreversivelmente
nossos fios da vida
A louca... alucinante... fanática...
... paixão.

Naquela noite negra
A lua se refugiara
dentro do vulcão adormecido
E apenas à luz de anãs brancas
os ventos entoavam a canção:
“... É ela, na noite
Cabelos negros, olhos negros...”
Vozes brandas inquietando minh’alma mansa
Tomando posse
Impregnando-me de arrebatada ansiedade,
à procura de te encontrar.

Planou do topo da escuridão
ao nível da atmosfera
onde eu vagava despovoado
uma sombra de grande envergadura
Ainda não era a tua presença.

É belo um Pteropus edulis, de Java...

... Que desvelou o meu espaço
do nevoeiro que ocultava a cidade vazia
Cruzou ligeiro o túnel
que desvendou até mim
Babando... ofegante... levitando
E seu hálito cálido sussurrou
aos meus voluptuosos sentidos:

“No cais, Ela está próxima...
... próxima de ti
Solta pelas estreitas ruas de pedra
Entre o mar e os palácios abandonados
Parece voar
Como o fantasma de uma gaivota
Sem a mínima necessidade de não ser incauto
atravessa o imaginário
lago do Grande Urso
O vale do Great Rift que não existe
Por sobre a tua réstia com a dela
Que se entrelaçam firmes
Erigindo a ponte segura
O istmo entre o arquipélago e o continente”.

Do clima ao clímax
o gato deu o seu pulo decidido
Tudo digo como diria o estranho poeta:

“Enquanto tu eras a frondosa grapefruit
Senhora das alturas, pousada sobre
a cabeça da cordilheira
Eu não passava de um pé de jacinto
aos pés da muralha que circundava teu império
E num passe de branca magia, veemente,
o escaravelho dourado escalou a fortaleza
até o teu calor
E magnetizado em teu campo de força sensual,
sofri intensamente a intensidade da tua
lindíssima beleza plena e radical
Dilatando... propagando... um denso e feérico arrebol
no olhar dos meus olhos arqueiros
Que não paravam de atirar certeiros na
serpente da tua boca
Selvagem, escorregando, me enlaçando,
se enroscando em meus troncos
Selváticas... sôfregas... frenéticas plantas carnívoras
Devorando e devoradas
Desbragando, ávidas a dentro, os profundos acidentes
e sinuosidades dos seus caules
Da raiz à crista da coma enriçada...
... manhã cheia de veneno
Umbigos transbordando de veneno
Bocas abertas vertendo prantos de veneno
Pele, em pelo, conspurcada de veneno,
brilhando ao sol envenenado”.

... É Vera, na noite
Cabelos negros, olhos negros.

(Fábio Torres).

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