sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Poema RUA DA MEIGUICE

(Este poema germinou como se fosse crescer
como um soneto; todavia, acabou infringindo todos os limites
toleráveis por Dante Alighieri e Francesco Petrarca,
transmutando-se em mais um louco, orgânico e insólito
poema do século 21)

Rua com Árvores, óleo sobre tela, pintado por Billy /
Fonte: Blog Os Quadros do Billy.

Na cidade atroz há uma rua
Uma rua onde nada se reflete
na cidade atroz
A cidade é morada de ogros
e governada por um algoz
À rua vivem plantadores de árvores,
amantes do sol, do vento, da lua...

À rua todos cuidam das suas casas,
dos jardins, dos bichos,
dos velhos, das crianças
A cidade e o vazio atrás dos olhos...
... a dor é seu peristilo
Uma rua na cidade:
a flor na boca aberta do crocodilo?
Na cidade cinérea não há amor ou lembranças.

Chamam-na de Rua da Meiguice
A perdurar ante a vileza
da cidade úmida, infesta
Dentro de uma abóbada de berço
translúcida, um campo de força sobrenatural,
a protegê-la da cidade fétida e morbígena,
dos necro-ares da imundice.

Num ardor suicida, atiram-se os vampiros
contra a aura cristalina que salvaguarda
a rua meiga e olorente
Em sedenta e louca tentativa de corrompê-la
e impregná-la de venenos mortais
Porém, o escudo mágico apenas atroa
Outra vez impedindo-os de esfacelar o mistério
da cândida rua, de torná-la mais um tentáculo
da cidade monstruosa e doente.

(Fábio Torres).

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