segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Poema AS FORMAS DO VENTO

Fonte: Google Imagens.
Dia fausto... O vento e eu
Eu vejo o vento
Que, ao tempo em que bate
mavioso no meu rosto largo,
junto com os afagos de
Bastet, deusa solar,
e o borrifar da malina,
me amansa, me distrai,
com as formas orgânicas,
mirabolantes, miraculosas,
que toma no azul... no ar
Me faz brincar, gargalhar,
como um palhaço sem nome,
como uma criança sem fome.
Agora é um escorpião
sem veneno, com sua tenaz
a me elevar docemente ao céu
Há pouco era um tubarão
sem dentes, a me engolir
e me regurgitar.
Mas também fui embalado
por braços de mãe
Admoestado pela voz de um pai
E beijado... devorado
pela boca imensa de Aline,
cariciado por suas mãos
pequenas e perfumadas,
riscado suavemente pelas unhas
pintadas com esmalte vermelho.
Deslizando, a serpente me levou
do sopé ao topo da montanha
E de lá, um albatroz errante
me fez alado... imperador do azul,
a planar, a sonhar em meu voo solo,
a viajar acima dos mares, do gelo,
nuvens, cidades, florestas e vales.
Para mim o vento baila, canta,
rodopia, assobia, abaixa, levanta,
chocalha os sistros,
num hilário teatro de marionetes,
onde os alísios personagens
têm a cara de tudo que amo.
... Primeiro morrem de tanto rir
E por fim, desaparecem, sugados
pelo vácuo da frígida calmaria
Lágrimas secas caem dos olhos:
areia erigindo dunas no deserto,
fúnebre sinfonia de formas
Agora são flores murchas na aridez,
inconsoláveis, chorando...
... sem querer partir.
Dia infausto... O vento e eu
Eu não vejo o vento.

(Fábio Torres).

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