quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Poema PAVÃO

Fonte: Google Imagens.
Pavão, pavão
Tesouro de Salomão
Presente fenício ao faraó
Ó, tão linda e impávida criatura
Magnífica arquitetura
Estarrecidos fitam o mundo
os mil olhos de Argus
em tua cauda aberta,
leque sagrado dos xamãs,
arco-íris de Hera,
resplendor da Índia.
Pavão, pavão
Vaidoso e turrão
Infla o peito azul
Riça a crista-flor
Crispa os dedos na terra
Unhas arrancam ervas
Raspa o bico na pedra
Amola e aponta a espora
Corre, voa e o canto ecoa
A lua enche a maré
Pranto, alegria, chamada, guerra
ou fazes a dança de macabré?
Fala ou cala, garrido animal !
Pavão, pavão
Da floresta é guardião
No alto da flora,
seus gritos alertam a fauna:
“Atenção! O caçador se aproxima!
O predador! O monstro-homem!”
... E a selva ouve,
a selva vê, a selva foge,
ao ruir da chuva,
alarido dos bichos
e ribombar do trovão.
Pavão, pavão
Estômago do vulcão
Fabuloso ser metamórfico
Da mata absorve os néctares
Não bebe na preta laguna
Não toma a água da pavuna
Ri da morte e das dores
Deleita-se com
o sumo dos vermes,
a seiva das sementes,
as toxinas dos insetos,
o extrato das pétalas,
a bile das cobras,
transformando venenos em cores.
Pavão, pavão
Cem fêmeas tem o sultão
Corteja-o o harém
Pavoneiam-se as pavoas
As belas de Burma, Malaia,
Java, Congo e Ceilão
Negras, albinas, verdes,
douradas, arlequíneas
Elas preparam os ninhos
E no rito fantástico e ruidoso,
dos arbustos ao chão e aos dorsos...
... livres acasalarão.
Pavão, pavão
Iguaria de reis,
há quem te queira no caldeirão
Guia da serpente,
praga dos maometanos,
há quem te odeie e extraia o coração
Mas para mim, pavão,
tens a divina natureza
Ave do paraíso
Esplendor da primavera
Reflexo do Self
Único e belo, como...
... Absalão, Absalão.

(Fábio Torres).

Fonte: Google Imagens.

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