sábado, 22 de outubro de 2011

Poema DEPOIS DO PESADELO... O SONHO

Fonte: Google Imagens.
A vermelhidão inunda minhas escleróticas
Os olhos, submersos, afligem-se,
pulsam desesperadamente, ao ponto de saltar
Rubis aprisionados no trevor das fossas marinhas,
em fuga dos veios miocênicos das montanhas abissais;
prístina rocha, viva e ardente, fazendo-os fossilizar.
E as veias inflam, dobram-se, aturdidas,
deformando a pele, que, embrutecida,
escama-se, como num ser reptílico
Meu sangue flui assustadoramente ávido,
demasiadamente oxigenado e veloz,
aos espasmos, sob golpes de aríete,
debatendo-se, acuado pelos débeis limites do corpo,
querendo jorrar, jorrar... abundante e incontinente
Oceano que foi represado enquanto plácido
dormia, indolente, aos sons do resfolegar
e do canto dos cetáceos, embalado nos tentáculos
bonançosos e fragrantes da viração;
mas que, açoitado ferozmente
pela inclemente tempestade, pelo tenebroso furacão,
ferido e revolto invadiu as altitudes,
devastou o Mundo, aplainou a Terra,
privando-a de todos os fortes e torres,
devassando cada poro e paredão das cidades defesas
Das Marianas ao Kilimanjaro.

Domingo... verão
Arraigada no alto da falésia
defronte ao mar,
à praia deserta, aos coqueiros,
ao infinito azul,
a vivenda dos meus ancestrais;
linda, idílica, telúrica,
a transpirar memórias
A casa onde nasci e vivi,
envolvido no casulo de carinho
dos meus amadíssimos pais,
continuamente renascendo,
suspenso nas atmosferas
as mais sensórias
E em seu jardim fantástico, imenso,
orgânico, de múltiplas cores e formas,
monarcas e vice-reis festejam,
em música e dança,
a tão bela manhã de dezembro,
impregnada de aromas,
de cenas e de sol
A família de juçaras,
mães e filhas,
levada pela brisa mansa,
movimenta-se aos sussurros
lenta e divagante
Cânticos, cantigas, cantatas:
nas pitangueiras em flor,
mangueiras de manga-maçã,
laranjeiras, cajueiros, goiabeiras
e pés de jabuticaba e de fruta-pão,
ninhos de pintassilgos, trinta-réis,
canários e alegrinhos
e os vermelhos saltitantes
da crista das cravinas
Perto do caramanchão,
a cauda do pavão,
a língua do camaleão
e as madeixas bailantes
das casuarinas,
enquanto esperanças e escaravelhos
exploram os ramos e buquês
das celestinas
No ozone-céu-reluzente,
a revoada de patos e maguaris
às piúvas, ilhas, matas e mangues
do Brejo dos Curimatãs
e do Rio das Ravinas
Os caminhos sinuosos
de chão batido, cascalho e conchas,
ladeados por bromélias,
hibiscos, jasmins vapor e natal
e árvores da felicidade
levam ao lago dos kois, tartarugas,
vitórias-régias e aldrovandas,
e a recantos recônditos... secretos
cercados por palmeiras com fuste
revestido de jibóias,
craibeiras floridas,
troncos lodosos e copas frondosas
de especimens centenários,
buganvilles, arbustos desconhecidos,
ricas-floras, casas-ricas, taiobas
e outras plantas de folhas graúdas
e pedras grandes e musgosas
hospedando orquídeas:
o esconderijo de crianças
e da Penelope obscura
e outros bichos arredios
Dos mirantes, por entre as folhagens,
à sombra das castanholas e gameleiras,
vê-se, na maré baixa, os maçaricos,
uns ainda magrinhos,
outros já bem gordinhos,
banqueteando-se de crustáceos e poliquetas,
na areia fértil a correr, parar,
correr, parar, voar e repetir,
tão engraçados e ligeirinhos.
Vejo ainda:
as preguiças nas embaúbas,
banana-prata, banana-ouro,
as comidas e delícias feitas por Xica Prega,
a algazarra de guinés, piriquitos e galinhas,
os gatos dormindo no alpendre,
o galo dos ventos no cume do telhado,
os aquários coloridos de bettas,
as iguanas escalando as trepadeiras
e as brincadeiras dos galgos,
sabujos e labradores.
A lua e as estrelas do vitral lilás
da grande sala de estar
são transpassadas pelo clarão do dia
Nas janelas entreabertas
de vidro translúcido,
as cortinas amarelas de bristol,
recolhidas, deixam os quartos
absorverem o doce perfume das rosas
E pétalas orvalhadas na madrugada clara
sopradas pela aura verde   
pousam suavemente na cama
onde, sobre lençóis da Caxemira,
ainda dorme minha mãe tão bela
Serena, sem dor, sonhando, sonhando...:
Vega na constelação de Lyra.

(Fábio Torres).


Fonte: Google Imagens.

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